O encontro entre autismo e climatério revela uma complexidade única que vai além das experiências tradicionais de mudança hormonal.
Para o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos, as mulheres autistas experimentam essa fase de vida de maneira significativamente diferente das mulheres neurotípicas.
O declínio hormonal no climatério não representa apenas uma transição biológica, mas uma transformação neurossensorial profunda para mulheres autistas”, explica o neurologista. As alterações hormonais podem intensificar características autistas, criando um cenário de experiências multidimensionais e desafiadoras.
Dificuldades Sensoriais Amplificadas
As mudanças hormonais podem exacerbar as já complexas alterações sensoriais presentes no autismo. Dr. Trilico destaca que mulheres autistas relatam sentir os sintomas do climatério de maneira mais intensa, com impactos significativos em sua rotina diária e bem-estar.
“Ondas de calor, instabilidade de humor e alterações corporais podem se tornar experiências verdadeiramente avassaladoras”, enfatiza Trilico. Essas mudanças não se limitam apenas a sintomas físicos, mas se estendem profundamente às dimensões emocionais e sociais.
Desafios de Comunicação e Interação Social
As alterações hormonais podem amplificar características autistas, especialmente nas áreas de comunicação e interação social. O manejo emocional torna-se um desafio ainda mais complexo, exigindo estratégias personalizadas de suporte.
“Muitas mulheres autistas experimentam um aumento nas dificuldades de processamento sensorial e comunicação durante o climatério”, informa o Dr. Trilico. Segundo ele, essa fase pode representar um período de significativa vulnerabilidade emocional e sensorial. Por isso, mais do que nunca, é fundamental uma abordagem multidisciplinar para auxiliar essas pacientes.
Paradoxalmente, o climatério pode se transformar em uma oportunidade única de autodescoberta.
“Este período funciona como uma lente de aumento para características autistas que podem ter permanecido sutis durante anos. Isso faz com que muitas mulheres, diante dessa situação, se descubram autistas exatamente nesta fase da vida”, explica o neurologista.
Diante de um momento tão particular na vida das mulheres, principalmente das autistas, como podemos ajudá-las?
Dr. Trilico recomenda uma abordagem multidisciplinar que considere, principalmente:
• Acompanhamento médico especializado em TEA e saúde feminina;
• Suporte psicológico com profissionais especializados;
• Desenvolvimento de estratégias personalizadas de regulação sensorial com terapeuta ocupacional especializado;
• Criação de redes de apoio específicas para mulheres autistas;
• Técnicas de mindfulness adaptadas às necessidades autistas.
“O reconhecimento dessas particularidades é crucial para proporcionar um suporte adequado. O climatério, quando compreendido em sua complexidade, pode passar de um já esperado período desafiador para uma jornada de empoderamento e autoconhecimento de muitas mulheres, incluindo aquelas no espectro”, finaliza o neurologista Dr Matheus Trilico.
Sobre o neurologista:
Dr. Matheus Luis Castelan Trilico – CRM 35805PR, RQE 24818.
– Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA);
– Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR);
– Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR
– Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista
Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/